Incentivos fiscais como política pública de desenvolvimento industrial: uma análise empírica dos efeitos econômicos da concessão de crédito presumido de ICMS para as indústrias têxteis do estado de Santa Catarina

Autores

  • Julio Cesar Fazoli Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Fabrícia da Silva Rosa Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Leonardo Flach Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Luiz Felipe Ferreira Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

DOI:

https://doi.org/10.16930/2237-7662/rccc.v17n51.2508

Palavras-chave:

Incentivos fiscais, guerra fiscal, desenvolvimento econômico, ICMS.

Resumo

No Brasil, a competição tributária entre os governos estaduais para atração de investimentos privados não é algo novo. Segundo os estados participantes, tais medidas permitiriam o desenvolvimento econômico de suas regiões, com a geração de renda e emprego, além do significativo aumento do valor adicionado ao longo das cadeias produtivas, devido à maior transformação industrial. O presente trabalho tem como objetivo verificar o comportamento do valor adicionado, gerado por empresas do setor têxtil antes e após a adoção da política pública, considerando os efeitos dos incentivos fiscais como ferramenta indutora de crescimento econômico da cadeia têxtil do Estado. O presente trabalho buscou contribuir para o tema, ao analisar o comportamento do valor adicionado, gerado por 11.272 estabelecimentos catarinenses que atuam no setor têxtil. Foram levantadas as informações mensais referentes ao valor agregado no período de 2006 a 2010, totalizando 60 meses. Para verificação do comportamento do valor agregado das indústrias têxteis antes e após a instituição do incentivo fiscal de ICMS, foi utilizado o modelo longitudinal de regressão para dados em painel, conhecido por “diferenças em diferenças” (diff-in-diff). Os resultados apontam uma queda de 32,89% no valor adicionado real, gerado pelas empresas do setor após a instituição do crédito presumido de ICMS. Ademais, enquanto se verificou um incremento de 105% na taxa mensal de crescimento do valor agregado nas empresas beneficiadas, houve uma queda de 53,30% para as empresas que não obtiveram o mesmo tratamento, o que demonstra um processo de migração de mercados, provavelmente em função da concorrência desleal gerada pelo incentivo fiscal.

Biografia do Autor

Julio Cesar Fazoli, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Mestre em Contabilidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço: Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n | Trindade | 88040-900 | Florianópolis/SC | Brasil.

Fabrícia da Silva Rosa, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço: Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n | Trindade | 88040-900 | Florianópolis/SC | Brasil.

Leonardo Flach, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço: Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n | Trindade | 88040-900 | Florianópolis/SC | Brasil.

Luiz Felipe Ferreira, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço: Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n | Trindade | 88040-900 | Florianópolis/SC | Brasil.

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Publicado

2018-08-08

Como Citar

Fazoli, J. C., da Silva Rosa, F., Flach, L., & Ferreira, L. F. (2018). Incentivos fiscais como política pública de desenvolvimento industrial: uma análise empírica dos efeitos econômicos da concessão de crédito presumido de ICMS para as indústrias têxteis do estado de Santa Catarina. Revista Catarinense Da Ciência Contábil, 17(51). https://doi.org/10.16930/2237-7662/rccc.v17n51.2508

Edição

Seção

Artigos