Impactos econômicos das decisões regulatórias sobre distribuição de dividendos de FIIS
o caso do Fundo Maxi Renda
DOI:
https://doi.org/10.16930/2237-766220243461Palavras-chave:
Valor Justo, Fundo de Investimento Imobiliário, Regulação, DividendosResumo
Os fundos de investimento imobiliário (FIIs) vêm ganhando destaque no mercado de capitais nos últimos anos. Sob o ponto de vista contábil, o Fundo Maxi Renda (MXRF11) foi objeto de recentes discussões e decisões contraditórias no âmbito da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com relação à base de cálculo para distribuição de dividendos. Nesse contexto, buscou-se investigar os impactos econômicos da mensuração pelo valor justo à luz das decisões da CVM no Fundo Maxi Renda e verificar como a teoria da regulação pode explicar as decisões do órgão regulador. Os resultados do fundo do período de 2015 a 2021 foram reperformados com base no método de caixa, utilizado pelo fundo, e pelo método de competência, determinado pela CVM, visando identificar as diferenças no montante dos rendimentos que seriam distribuídos com a alteração da metodologia exarada pelo órgão regulador. Além disso, realizou-se ainda uma análise das decisões da CVM e dos argumentos do administrador do fundo, com vistas a identificar elementos que pudessem ser correlacionados com a atuação do órgão regulador sob os aspectos da teoria da regulação. Como resultado, demonstrou-se que há impacto econômico no rendimento mínimo apurado a ser distribuído pelo fundo entre as duas metodologias (caixa e competência), com montantes menores para distribuição considerando o regime de competência, que expurgam receitas e despesas que não transitam pelo caixa, como é o caso da mensuração ao valor justo. As decisões da CVM podem ter ressonância na teoria do interesse público, de modo que a atuação do órgão regulador visou à proteção do investidor, ainda que possa ter sofrido pressões exercidas por grupos de interesse ou mesmo capturada pelos regulados, uma vez que ela alterou o entendimento inicial sobre o caso. Além da contribuição teórica, com a possibilidade de expandir os estudos sobre a aplicabilidade das normas contábeis relativas à mensuração do valor justo nos fundos de investimento e seus impactos econômicos, o estudo aplicado ao Fundo Maxi Renda proporciona um melhor entendimento sobre o tema de modo a subsidiar investidores quanto a tomada de decisão sobre investimentos nesse tipo de fundo.
Referências
Almeida, K. K. N., & França, R. D. (2021). Teorias aplicadas à pesquisa em contabilidade: uma introdução às teorias econômicas, organizacionais e comportamentais. Editora UFPB.
Almeida, H. J. F., Feltrin, R. J., Haas, G. P., & Nunes, M. S. (2021). Existe value premium para os fundos imobiliários brasileiros? Uma análise para o período 2013 a 2018. Revista Brasileira de Economia de Empresas, 21(1), 117-130. https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbee/article/view/11687
Araújo, E. F., & Dias Filho, J. M. (2020). Lobbyng na regulação da atividade de auditoria, no âmbito do mercado de valores mobiliários: quem dá as cartas? Uma análise das audiências públicas da instrução CVM 308/99, sob a perspectiva da Teoria da Regulação. In C. R. M. Silva (Org.). Ensino, pesquisa e inovação em contabilidade. Atena Editora. https://dx.doi.org/ 10.22533/at.ed.9742010023 DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.9742010023
Beaver, W. H. (1998). Financial reporting: an accounting revolution. Prentice Hall.
Cardoso, R. L., Saravia, E., Tenório, F. G., & Silva, M. A. (2009). Regulação da contabilidade: teorias e análise da convergência dos padrões contábeis brasileiros ao IFRS. Revista de Administração Pública - RAP, 43(4), 773-799. https://doi.org/10.1590/S0034-76122009000400003 DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-76122009000400003
Carmo, C. H. S., Ribeiro, A. M., & Carvalho, L. N. G. (2014). Influência dos grupos de interesse no processo de normatização contábil internacional: o caso do Discussion Paper sobre Leasing. Contabilidade Vista & Revista, 25(2), 99-118. https://www.redalyc.org/pdf/1970/197037785006.pdf
Carmo, C. H. S., Ribeiro, A. M., & Carvalho, L. N. G. (2016). Lobbyng na regulação contábil: desenvolvimentos teóricos e pesquisas empíricas. Revista Universo Contábil, 12(2), 59-79. https://doi.org/10.4270/ruc.2016214 DOI: https://doi.org/10.4270/ruc.2016214
Carvalho, T. L. D. (2012). Fundo de investimento imobiliário: análise jurídica e econômica do sistema de publicidade de informações, das restrições operacionais e dos fatores de risco [Tese de doutorado, Universidade FUMEC]. https://repositorio.fumec.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/794/tomas_carvalho_mes_dir_2012.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Cortese, C., & Irvine, H. (2010). Investigating international accounting standard setting: the black box of IFRS 6. Research in Accounting Regulation, 22, 87-95. https://doi.org/10.1016/j.racreg.2010.07.003 DOI: https://doi.org/10.1016/j.racreg.2010.07.003
Comitê de Pronunciamentos Contábeis. (2012). Pronunciamento Técnico CPC 46 - Mensuração ao Valor Justo.
Comitê de Pronunciamentos Contábeis. (2019). Pronunciamento Técnico - CPC 00 (R2) Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro.
Comissão de Valores Mobiliários. (2008). Instrução Normativa 472, de 31 de outubro de 2008. Dispõe sobre a constituição, a administração, o funcionamento, a oferta pública de distribuição de cotas e a divulgação de informações dos Fundos de Investimento Imobiliário. https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/400/inst472consolid.pdf
Comissão de Valores Mobiliários. (2011). Instrução Normativa 516, de 29 de dezembro de 2011. Dispõe sobre a elaboração e divulgação das Demonstrações Financeiras dos Fundos de Investimento Imobiliário, regidos pela Instrução CVM nº 472, de 31 de outubro de 2008. https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst516.pdf
Comissão de Valores Mobiliários. (2014). Ofício-Circular/CVM/SIN/SNC/N° 01/2014. https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/oficios-circulares/sin-snc/oc-sin-snc-0114.html
Comissão de Valores Mobiliários. (2021). Decisão do Colegiado de 21/12/2021. Recurso contra decisão da SSE - Distribuição de rendimentos em fundo de investimento imobiliário - BTG Pactual Serviços Financeiros S.A. DTVM - Proc. SEI 19957.006102/2020-10. https://conteudo.cvm.gov.br/decisoes/2021/20211221_R1/20211221_D2388.html
Comissão de Valores Mobiliários. (2022). Decisão do Colegiado de 17/05/2022. Pedido de reconsideração de decisão do colegiado - Distribuição de rendimentos em fundo de investimento imobiliário - BTG Pactual Serviços Financeiros S.A. DTVM - Proc. SEI 19957.006102/2020-10. https://conteudo.cvm.gov.br/decisoes/2022/20220517_R1/20220517_D2388.html
Dias, E. I., & Silva, A. C. M. (2021). Análise do desempenho dos Fundos Imobiliários no Brasil de 2017 a pandemia Covid-19. Revista Vianna Sapiens, 12(2), 56-77. https://doi.org/10.31994/rvs.v12i2.813 DOI: https://doi.org/10.31994/rvs.v12i2.813
Diniz, G. S. (2021). Montagem de portfólios: estudo de fundos imobiliários no Brasil. Boletim Economia Empírica, 1(5), 1-3. https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/bee/article/view/5506
Ferreira, A. P., Gonzales, A., & Santos, F. A. (2020). Efeitos de eventual término da isenção do imposto de renda dentro de fundos de investimento imobiliário. Revista Fatec Zona Sul, 6(3), 27-49. https://www.revistarefas.com.br/RevFATECZS/article/view/390
Gelbcke, E. R., Santos, A., Iudícibus, S. & Martins, E. (2018). Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Editora Atlas.
Hendriksen, E. S., & Van Breda, M. F. (1999). Teoria da contabilidade. São Paulo: Editora Atlas.
Kastner, T. (2022, fevereiro 11). A ruína dos fundos imobiliários - e como reerguer a sua carteira. Você S/A. https://vocesa.abril.com.br/mercado-financeiro/a-ruina-dos-fundos-imobiliarios-e-como-reerguer-a-sua-carteira/
Lei n.º 6.385, de 7 de dezembro de 1976. (1976). Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.
Lei n.º 8.668, de 25 de junho de 1993. (1993). Dispõe sobre a constituição e o regime tributário dos Fundos de Investimento Imobiliário e dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e dá outras providências.
Lima, M. (2023, fevereiro 12). Fundos imobiliários atingem 2 milhões de investidores; veja os mais populares. Forbes Money. https://forbes.com.br/forbes-money/2023/02/fundos-imobiliarios-atingem-2-milhoes-de-investidores-veja-os-mais-populares/
Lima, S. H. D. O., Oliveira, F. D., & Coelho, A. C. D. (2014). Regulação e regulamentação na perspectiva da contabilidade [Apresentação de Trabalho]. 14º Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, São Paulo, SP, Brasil. https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos142014/156.pdf
Martin, E. (2021, fevereiro 25). Os fundos imobiliários desvalorizaram. O que fazer? Você S/A. https://vocesa.abril.com.br/dinheiro/os-fundos-imobiliarios-desvalorizaram-o-que-fazer
Martins, E. A., & Galdi, F. C. (2022, maio 10). Opinião: a relevância do regime de competência e do valor justo nos FIIs. Valor Investe. https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos-imobiliarios/coluna/opiniao-a-relevancia-do-regime-de-competencia-e-do-valor-justo-nos-fiis.ghtml
Matos, T. M. P. D., Santos, O. M. D., Rodrigues, A., & Leite, R. D. O. (2018). Lobbying na regulação de auditoria no âmbito do IAASB. Revista Contabilidade & Finanças, 29, 246-265. https://doi.org/10.1590/1808-057x201804330 DOI: https://doi.org/10.1590/1808-057x201804330
Nakama, V. (2021). A instrumentalização financeira do espaço: fundos de investimento imobiliário como estruturas de capital fixo. Revista INVI, 36(103), 194-214. https://revistas.uchile.cl/index.php/INVI/article/view/63808 DOI: https://doi.org/10.4067/S0718-83582021000300194
Neto, A. O. (2015). Fundos de investimento imobiliário e suas características de hedge contra inflação no Brasil. [Dissertação de mestrado, Fundação Getúlio Vargas]. https://repositorio.fgv.br/server/api/core/bitstreams/a2589ff4-6c5b-4f72-86e8-fae93f8ae715/content
Nogueira Jr, E. (2008). Fundos de investimento imobiliário: uma contribuição ao estudo das práticas contábeis adotadas no Brasil. [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. https://repositorio.pucsp.br/bitstream/handle/1693/1/Edgard%20Nogueira%20Junior.pdf
Oliveira, J., & Milani, B. (2020). Variáveis que explicam o retorno dos fundos imobiliários brasileiros. Revista Visão: Gestão Organizacional, 9(1), 17-33. http://dx.doi.org/10.33362/visao.v9i1.2051 DOI: https://doi.org/10.33362/visao.v9i1.2051
Pohlmann, M. C., & Alves, F. J. S. (2004). Regulamentação. In S. D. Iudícibus, & A. B. Lopes (Orgs.). Teoria avançada da contabilidade. Editora Atlas.
Posner, R. A. (1974). Theories of economic regulation. The Bell Journal of Economics and Management Science, 2(5), 335-358. https://doi.org/10.2307/3003113 DOI: https://doi.org/10.2307/3003113
Santos, O. M, & Santos, A. (2014). Lobbying na regulação contábil: Evidências do setor petrolífero. Revista Contabilidade & Finanças, 25(65), 124-144. https://doi.org/10.1590/S1519-70772014000200004 DOI: https://doi.org/10.1590/S1519-70772014000200004
Sousa, J. R., & Santos, S. C. M. (2020). Análise de conteúdo em pesquisa qualitativa: modo de pensar e de fazer. Pesquisa e Debate em Educação, 10(2), 1396-1416. https://doi.org/10.34019/2237-9444.2020.v10.31559 DOI: https://doi.org/10.34019/2237-9444.2020.v10.31559
Stigler, G. J. (1971). The theory of economic regulation. The Bell Journal of Economics and Management Science, 2(1), 3-21. https://doi.org/10.2307/3003113 DOI: https://doi.org/10.2307/3003160
Takoi, S. M. (2022). Breves comentários sobre fundos de investimento imobiliário e o FIAGRO (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) e seu tratamento tributário. Revista Tributária e de Finanças Públicas, 152(30), 275-289. https://rtrib.abdt.org.br/index.php/rtfp/article/view/560/263
Torres, M. de L. (2007). Regulação e eficiência no mercado de capitais: a informação como alvo central da atuação regulatória da CVM. 2007. [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/889/1/arquivo1196_1.pdf
Tres, T. P. (2016). Regime de caixa ou competência: uma análise do impacto do Ofício-Circular CVM/SIN/SNC/Nº 01/2014 na distribuição de rendimentos de um fundo de investimento imobiliário. [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. http://hdl.handle.net/10183/148638
Vicente, P. (2005). O uso de simulação como metodologia de pesquisa em ciências sociais. Cadernos EBAPE.BR, 3(1), 1-9. https://periodicos.fgv.br/cadernosebape/article/view/4908 DOI: https://doi.org/10.1590/S1679-39512005000100008
Watts, R. L., & Zimmerman, J. L. (1978). Towards a positive theory of the determination of accounting standards, The Accounting Review, 53(1), 112-134.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Catarinense da Ciência Contábil
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os direitos autorais para artigos publicados nesta revista pertencem ao(s) respectivo(s) autor(es), com direitos de primeira publicação cedidos para a Revista Catarinense da Ciência Contábil - RCCC. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com obrigatoriedade de reconhecimento da autoria original e da publicação inicial nesta revista. A revista permitirá o uso dos trabalhos publicados, incluindo direito de enviar o trabalho para bases de dados de acesso público. O conteúdo dos artigos publicados são de total e exclusiva responsabilidade dos autores.
- O(s) autor(es) autoriza(m) a publicação do artigo na revista;
- O(s) autor(es) garante(m) que a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra(s) revista(s);
- A revista não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es);
- É reservado aos editores o direito de proceder ajustes textuais e de adequação do artigo às normas da publicação.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.